Alfonso Cuarón está de volta. Sorte da televisão!
Seis anos após o oscarizado "Roma", o cineasta de "Filhos da Esperança" e "Gravidade" comanda minissérie do Apple TV+.
Nesta edição:
O filme de sete horas de Alfonso Cuarón.
As notícias mais importantes de Hollywood nesta semana.
Sebastian Stan e o Trumpismo.
Mais Sebastian Stan? Existe isso?
Filme de ação mais inusitado do ano.
“Friday Night Lights” com basquete indígena.
Série da Max/HBO tira sarro de superproduções de heróis.
Música da semana é o podcast da semana.
Não consigo pensar em um cineasta moderno com uma carreira tão ímpar quanto consagrada quando Alfonso Cuarón.
Outros fizeram filmes melhores.
Vários trafegaram no mesmo gênero.
Uns revezaram tropeços com genialidades.
Muitos passaram despercebidos nas premiações mesmo com ótimos longas.
Uns raros se entrincheiraram nas próprias convicções.
A maioria vendeu a alma e se acomodou.
Cuarón, por sua vez, experimentou de tudo desde que chamou a atenção do mundo pelo sensual e ousado “E Sua Mãe Também” -o filme de 2001 mostrou um diretor bem diferente da adaptação de “A Princesinha”, longa infantil que apresentou o mexicano a Hollywood, e “Grandes Esperanças”.
Com isso na bagagem, o diretor foi chamado para assumir “Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban”, terceira parte da franquia do bruxinho e aquela que os hormônios da molecada estavam em polvorosa.
A decisão arriscada da Warner deu frutos. O filme foi considerado um amadurecimento necessário na série iniciada por Chris Columbus e ganhou o coração da crítica -além de faturar US$ 808 milhões nas bilheterias.
O mexicano poderia ter feito o que queria da vida depois disso.
Resolveu adaptar um pequeno livro da autora P. D. James de forma bem livre. “Filhos da Esperança” (2006) foi um fracasso de público. A imprensa pouco notou.
Não eu.
Vi o filme em Londres durante o fim de semana de lançamento. Meu cérebro explodiu. Foi um dos meus longas preferidos daquele ano. Escrevi uma crítica elogiosa para a “SET” que terminou estampando a caixa de DVD no Brasil.
Falei isso para Cuarón quando o reencontrei para as entrevistas de “Gravidade” (2013), ficção científica que o consagrou tardiamente como diretor de primeira linha em Hollywood.
“Ah, então foi você”, brincou o mexicano sobre o fato de ninguém ter visto “Filhos da Esperança” na época -hoje, é um dos filmes mais cultuados da década de 2000, como me disse seu protagonista, Clive Owen, em outra entrevista publicada por aqui há alguns meses.
“No aniversário de 10 anos da produção, o ‘The New York Times’ publicou um artigo perguntando: por que ‘Filhos da Esperança tem dez anos e é o filme mais relevante da atualidade? Na verdade, tudo se deve à genialidade de Alfonso Cuarón. Ele fez um filme ambientado em um futuro próximo, mas com questões nojentas que já eram uma preocupação naquela época. E veja como essas coisas ganharam corpo. É um filme que passou no teste do tempo. Quanto mais o tempo passa, é o único longa que as pessoas falam constantemente sobre ele comigo. E é analisado e reverenciado. Você percebe que muitos filmes recebem bastante hype e aclamação no lançamento e, cinco anos depois, ninguém mais fala deles, são completamente esquecidos. Mas ‘Filhos da Esperança’ é um daqueles que resiste à passagem do tempo e as pessoas continuam a comentar. Quando você olha para a história do cinema, sempre há filmes que fazem barulho apenas quando estreiam e outros que se sustentam por muitos anos.”
Alfonso Cuarón, já com vários Oscar na mão, repetiu o feito com “Roma”, de 2018, mostrando uma faceta reinventada, em busca das suas raízes e do realismo.
Cuarón tinha alcançado tudo que era possível. Diretor de “filme de arte”. Diretor de Oscar. Diretor de franquia bilionária. Diretor cultuado. Diretor de filme infantil. Diretor de sucesso de bilheteria.
Faltava uma coisa: diretor de TV.
Não que ele não tenha tentado.
“Believe”, que criou e dirigiu o primeiro episódio, foi seu grande tropeço em 2014.
Isso deve ter ficado marcado na sua cabeça.
“Será que não consigo fazer uma boa série de TV?”, pode ter pensado.
A resposta está com “*Disclaimer”, sua nova série que estreia nesta sexta-feira (11), no Apple TV+.
Desta vez, tudo é diferente.