Entre erros e acertos, "Alien: Romulus" renova franquia espacial
Filme de Fede Alvarez entrega início ambicioso e sequências intensas, mas tropeça nas homenagens às produções anteriores.
Quando tinha 25 anos, o diretor Fede Alvarez ganhou um concurso que o levou da sua Montevidéu a Los Angeles para participar da première de “X-Men 2”. “Às custas da Fox, o que é a melhor parte”, brinca o cineasta.
Na entrada do cinema, ele viu Alice Cooper num papo animado com David Hasselhoff. No mictório, urinou ao lado de um dos integrantes do 'N Sync. Na volta para o assento, Ginger Spice lhe perguntou onde era o banheiro. Ainda não havia acabado: sentados ao seu lado, estavam Richard Donner e John McTiernan. “Meu cérebro derreteu. Foi a noite mais louca da minha vida”, diz Alvarez.
Ele voltou para o Uruguai com a ideia fixa de como repetir essa noite. Estudou roteiro, dirigiu alguns comerciais de TV. E passou três anos para rodar um curta-metragem de ficção científica sobre um ataque de robôs gigantes à Montevidéu.
Veja “Ataque de Pânico”:
A brincadeira chamou a atenção de Sam Raimi, que o convidou para filmar um novo capítulo da saga “Evil Dead” e para ver outro filme no Chinese Theatre: “Ninja Assassino”. “Não tão bom quanto ‘X-Men’, mas novamente da Fox”, confessa o diretor.
21 anos depois de pisar pela primeira vez em Hollywood, Fede Alvarez está no Chinese Theatre apresentando o próprio filme. E para o estúdio que um dia foi a Fox.
“Alien: Romulus”, que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta (15), é o novo capítulo de uma franquia poderosa que perdeu vigor ao longo dos anos, mesmo comandada pelo seu homem-forte, Ridley Scott, em “Prometheus” e “Alien: Convenant”.
Alvarez tinha a missão bem explícita de manter o respeito pelo material original, mas começar algo quase do zero, com começo, meio e fim bem definidos para o novo público. Os fãs poderiam, no caso, se deliciar (ou não) com as dezenas de referências aos longas anteriores.
A ideia deu certo. “Alien: Romulus” é revigorante, tenso e simples em seu conceito, mesmo que seja repetitivo e derivativo na sua trama.
Faltou uma camisa mais pesada para o uruguaio para se impôr.
Fede Alvarez é um bom diretor. “O Homem nas Trevas”, seu primeiro longa original nos EUA, é uma prova: domínio de tensão, boa noção de roteiro e personagens e um frescor narrativo. Talvez tenha se deslumbrado demais com Hollywood ao aceitar ser um remodelador de franquias, como “Um Drink no Inferno” em formato de série e “Millennium: A Garota na Teia de Aranha”, tentativa da Sony de energizar a série da hacker Lisbeth Salander pós-David Fincher.
Há um respeito imenso de Alvarez pelo conceito geral da série. Isso parece colocar freios no cineasta. É mais devoção que ambição.