Alvo da ultradireita, "Superman" é divertido, ingênuo e corajoso
Trama do filme de James Gunn traça paralelo assustador com a atual política de anti-imigração do governo dos EUA.
As filmagens do novo “Superman”, de James Gunn, foram finalizadas em 30 de junho de 2024.
Mais de um ano atrás, Joe Biden era presidente dos EUA e ainda se mantinha como candidato do partido Democrata para disputar as eleições de novembro contra Donald Trump, candidato Republicano.
Considerando que Gunn afirma não começar seus projetos sem um roteiro pronto, podemos calcular que “Superman” foi escrito pouco menos de dois anos antes da estreia nos cinemas, nesta quinta-feira (10) -o cineasta revelou que o texto estava “99%” completo em dezembro de 2023.
Na primeira meia-hora do filme que reinicia a jornada dos heróis da DC (Batman, Mulher-Maravilha, Flash etc) no cinema, Superman (David Corenswet) se entrega à justiça norte-americana e é escoltado pelo Ultraman, um agente mascarado e não-oficial a serviço do bilionário Lex Luthor (Nicholas Hoult) que ganha poder de prisão quando um estado de emergência é declarado pelo Departamento de Defesa.
Mesmo algemado e cooperando com as autoridades, Superman é espancado e tem seu rosto esmagado contra o chão de forma violenta. As redes sociais e noticiários da TV compram rapidamente a narrativa de que aquele sujeito de uniforme azul e vermelho, capa e cueca por cima das calças estaria no planeta Terra para subjugar a população e reinar como um tirano, tudo parte do plano de Luthor.
Do lado de cá da realidade:
Em 6 de junho, pouco mais de um mês atrás, Narciso Barranco, um imigrante mexicano vivendo na Califórnia desde os anos 90, foi cercado por agentes mascarados a serviço do departamento de imigração dos EUA. Mesmo impotente contra diversos “oficiais” (entre aspas, porque eles não apresentam documentos ou identidade antes de suas ações), o homem de 48 anos foi espancado e teve seu rosto esmagado contra o asfalto, como você pode ver em um vídeo que viralizou.
Pai de três fuzileiros navais dos EUA, uma das tropas de elites do país, Barranco não tem ficha criminal e trabalhava como jardineiro para sustentar a família. Seu “crime” foi não ter os documentos necessários para se estabelecer nos Estados Unidos, situação de milhares de pessoas que atravessam as fronteiras em busca de vida melhor -e compõem boa parte da força de trabalho de funções pouco ocupada por americanos, de agricultores a lavadores de pratos, passando por cozinheiros e limpadores de carro.
Ao ver “Superman”, ficou impossível separar as duas imagens.