"Andor" mostra como "Star Wars" pode ser poderosa e subversiva
Os 12 episódios da nova (e brilhante) temporada mergulham na área cinzenta da guerra contra opressão e regimes totalitários.
“Então é assim que a liberdade morre. Com aplausos estrondosos.”
A célebre frase proferida por Padmé Amidala (Natalie Portman) se tornou um dos emblemas de “A Vingança dos Sith” (2005), terceiro filme da segunda trilogia de George Lucas.
Ela é uma reação ao discurso do Chanceler Supremo Palpatine (Ian McDiarmid), diante do senado galático, anunciando oficialmente a criação do opressor, assassino e tirânico Império.
“A Vingança dos Sith”, recentemente, ganhou mais peso dramático. Não por culpa da nova geração de críticos que tem o filme na sua bagagem emocional, mas pela ascensão de ideologias totalitárias e governos com alma fascista ao redor do planeta de uma maneira inédita desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
Não por acaso, o longa reestreou neste fim de semana nos EUA, onde atualmente até juízes estão sendo presos e cidadãos deportados ilegalmente, com uma previsão de faturar absurdos US$ 25 milhões dos três dias comemorativos aos 20 anos de aniversário do “Episódio III”.
Sim, ela está sendo redescoberta.
A trilogia de Lucas tem inúmeras deficiências, mas a mesmice não é uma delas -ao contrário da trilogia mais recente capitaneada por J.J. Abrams.
Lucas estaria rindo à toa se a realidade não fosse tão perigosa. Suas intrigas políticas se revelaram mais modernas e precisas que em muitos longas sérios. Suas ideias permaneceram frescas neste sentido, apesar de tropeços na execução.
E ele deve está orgulhoso de “Andor”, série concebida para servir de ponte entre “A Vingança dos Sith” e “Rogue One”, mas que se tornou a melhor coisa que “Star Wars” produziu desde “O Império Contra-Ataca”.
Foi exatamente isso que escrevi em setembro de 2022, quando a primeira temporada da série comandada por Tony Gilroy estreou no Disney+.
Alguns torceram o nariz para minha crítica. Achavam que estava exagerando –antes mesmo de assistirem ao primeiro episódio.
Agora, “Andor” chega à segunda (e última) temporada sob uma chuva de elogios inédita para o universo de uma galáxia muito distante.
Não apenas isso.
“Andor” quebra diversos paradigmas considerados imutáveis por décadas, força os limites do que é aceito ou não neste universo tão famoso e tem a coragem de mostrar como ditaduras são criadas sem a simplicidade que a Disney impõe a seus produtos.
Tony Gilroy diz que “uma série como ‘Andor’ nunca mais será feita novamente.”
Ele não está mentindo.
Assisti aos seus 12 episódios e posso afirmar que a existência de “Andor” é quase um milagre hollywoodiano.
A começar pelo formato.