Beleza roubada
"A Substância", fábula de horror com Demi Moore, surpreende nas bilheterias brasileiras. Leia sobre o filme provocador.
Quando a diretora Coralie Fargeat estava prestes a completar 40 anos, começou a se sentir deprimida.
Na sua cabeça, ela achava que havia chegado “ao fim da vida”, uma pressão que muitas mulheres sentem com o passar das décadas e as mudanças físicas. “Fui levada a acreditar que minha vida havia acabado. Estudei ciência política, sou uma feminista e, ainda assim, essa merda deu um jeito de se instalar no meu cérebro. Estava definitivamente convencida de que, após uma certa idade, eu não valeria nada”, escreveu ela numa declaração à imprensa.
Para confrontar essa sensação tóxica, Fargeat escreveu “A Substância”, filme que estreou nos cinemas brasileiros na quinta-feira (20) e, apesar da sua estranheza, conseguiu render R$ 1,1 milhão e ficar entre os quatro mais vistos no país no fim de semana. Uma surpresa para o pequeno longa de US4 17 milhões que rendeu US$ 10 milhões até agora.
E, assim, aos 47 anos, Fargeat não apenas competiu pela Palma de Ouro do último Festival de Cannes, como ganhou o prêmio de Melhor Roteiro pelo seu longa.
E tem mais.
A cineasta reacendeu a carreira de Demi Moore, a atriz mais bem paga dos anos 90, em um papel corajoso em que requer uma dedicação extrema aos 60 anos, a demoção de qualquer sinal de vaidade e um leque dramático possivelmente inédito na carreira da estrela de “Proposta Indecente” e “Ghost - O Outro Lado da Vida”.
Tendo dito isso, nada pode te preparar para a experiência grotesca, alucinógena e exigente de “A Substância”.
Demi Moore faz um resumo interessante: “É como se ‘O Retrato de Dorian Gray’ encontrasse ‘A Morte lhe Cai Bem’ com os programas de ginástica de Jane Fonda.”
Acrescentaria mais duas influências neste caldeirão da atriz: uma vitela de David Cronenberg maturada num molho de filme B da Troma para dar o sabor.
E talvez o prato tenha passado do ponto.
Mesmo assim, “A Substância” é um dos longas mais provocadores de 2024, um filme que não se contenta em passar uma mensagem explícita, mas ainda a injeta com incômodos sonoros e deleites visuais.
Moore é Elisabeth Sparkle, uma estrela dos programas de ginástica matinais desde mundo alternativo meio vintage criado pela diretora e roteirista francesa. Considerada velha demais para o protagonismo, ela é demitida pelo seboso e machista dono da emissora (Dennis Quaid), que começa uma caçada para encontrar sua substituta.
Inconformada com a situação, Sparkle descobre uma droga secreta chamada “a substância” que cria uma outra versão sua, porém mais jovem. A pegadinha: a troca de corpos precisa revezar a cada sete dias. Uma semana jovem, uma semana velha. Ela topa e, de dentro de si (literalmente), sai Sue (Margaret Qualley), uma deusa jovial sem defeitos capaz de encantar qualquer olhar masculino e pronta para o estrelato numa indústria que valoriza o exterior.
O problema é que Sue começa a gostar além da conta da sua vida de celebridade e paparicação, enquanto sua matriz passa a apodrecer cada vez mais inerte no chão do seu banheiro. Os dois mundos irão colidir.
Coralie Fargeat controla com maestria seu recado sobre a exploração do corpo feminino e o descarte da mulher mais velha, babando em cima de Sue ou modificando o corpo de Sparkle de maneira asquerosa. As atuações das duas atrizes são corajosas, comoventes e viscerais, principalmente pelo alto uso de zoom e das cenas de nudez -o nascimento de Sue é tão doloroso quanto fascinante.
É um longa bem-humorado, venenoso e exagerado.
Até demais.
A diretora poderia ter embalado tudo em um filme mais enxuto, mas a meia hora final termina redundante e cansativa. É um filme com substância, com o perdão do trocadilho, mas ofuscado pelo estilo desenfreado de “quero ser a pessoa mais cool da cidade”.
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