Bem-vindos ao deserto da saudade
Enquanto o revolucionário "Matrix" completa 25 anos, o cinema se vê envolto por nostalgia. Mas nem tudo é ruim nesta moda.
Nesta edição:
Saudade ou péssima safra?
Os 25 anos de “Matrix”.
Duas novas séries no espírito de “Big Little Lies”.
Série documental sobre maior tragédia enfrentada pelo Flamengo.
Azeite e livro do Radiohead.
Música da semana
Na terça-feira passada, escrevi um texto sobre o desenho animado dos “X-Men” com a mesma estética do original dos anos 90.
Nesta quinta (21), “Ghostbusters: Apocalipse de Gelo”, franquia originaria dos anos 80, estreou nos cinemas norte-americanos.
No mesmo dia, o Amazon Prime Video colocou no ar o novo “Matador de Aluguel”, refilmagem do filme de ação descerebrada de 1989 protagonizado por Patrick Swayze, agora com Jake Gyllenhaal no papel principal.
Se você parar e pensar, ficará meio maluco: “Indiana Jones”, “A Pequena Sereia”, “Duro na Queda”, “Top Gun”, “Meninas Malvadas”. Isso sem contar franquias eternas, como “Star Wars”, “Homem-Aranha” e “Batman”.
Por alguns segundos, eu seria capaz de assegurar que poderia ouvir a voz de Laurence Fishburne no meu cérebro: “Você acredita que o ano é 2024, mas, na verdade, estamos mais próximos de 1994".
Nostalgia vender não é novidade.
Nostalgia se tornar o grilhão da criatividade, isso sim é preocupante.
Tanto que precisamos mergulhar no passado.
Hoje em dia, se filmes de US$ 200 milhões sofrem para encontrar seu público e outros simplesmente desaparecem com duas semanas nos cinemas, existe um público sedento por grandes longas de um passado não tão distante.
Esqueça os dias de clássicos como “…E O Vento Levou”, “Lawrence da Arábia” ou “Psicose”.
O lance agora é “Jurassic Park”, “Clube da Luta”, “Beetlejuice” etc.
Tanto que os cinemas dos EUA estão vendo retorno grande com relançamentos.
Datas especiais com exibições de filmes das gerações X e Z estão atraindo um público inesperado às salas comerciais -que chegaram com décadas de atraso em relação às salas “de arte” e suas sessões da madrugada.
Ano passado, “Jurassic Park” (1993), de Steven Spielberg, rendeu quase US$ 2 milhões num fim de semana em cartaz.
“Atração Mortal” (1988) foi um sucesso na Inglaterra.
Comprovei isso pessoalmente na quarta-feira (20), quando “Matrix” foi relançado nos cinemas Dolby Atmos da rede norte-americana AMC para comemorar os 25 anos do filme. Sem nenhuma promoção (juro, descobri sem querer), entrei na sala e ela estava cheia!
Por coincidência, no dia seguinte, fui assistir à estreia de “Ghostbusters: Apocalipse de Gelo”. Era a mesma sala dentro do mesmo multiplex, com diferença apenas da hora na tarde.
E o cinema estava quase vazio.
Obviamente que precisamos considerar outros fatores, como a farta oferta de sessões e o início da janela. Ainda assim, foi um pouco surreal ter visto “Matrix” em 2024 com o cinema cheio, as pessoas aplaudindo o início e respeitando as duas horas de projeção sem celulares na mão.
Ou será que isso era exatamente o que a Matrix queria me mostrar?
Qual pílula você vai tomar?
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