"Blonde" tortura Marilyn Monroe sem piedade
Filme de Andrew Dominik é lindo de se ver e difícil de se gostar, mesmo com Ana de Armas no seu melhor papel.
Há filmes que te fazem pensar na vida.
“Blonde” te faz pensar na vida, mas não no bom sentido.
Lembrei de uma história de como homens exploram Marilyn Monroe até depois da sua morte:
Em 1953, um jovem Hugh Hefner tinha o sonho de fundar uma revista masculina e descobriu que uma empresa de Chicago tinha os direitos de um ensaio nu do grande símbolo sexual de Hollywood naquela época.
Marilyn tinha feito esse ensaio usando outro nome para poder pagar contas do seu carro, em 1948, quando ela ainda não era ninguém -mesmo quando se tornou estrela, continuava a receber menos que seus colegas homens.
Hefner comprou os direitos por US$ 500 e, em dezembro de 1953, publicou as fotos como a capa e pôster central da primeira revista “Playboy”. “Pela primeira vez em qualquer revista em cores, a famosa Marilyn Monroe nua!”, vendiam os anúncios.
Com medo da repercussão e do fracasso, Hefner nem mesmo colocou seu nome nos créditos da publicação. Mas deu tudo certo para ele e seu império milionário da “Playboy” decolou. A atriz, por outro lado, não viu um centavo de tudo isso, a não ser os US$ 50 desesperados que recebeu com a promessa de anonimato.
Se não fosse Marilyn Monroe, a “Playboy” provavelmente não teria existido.
Não que isso tenha comovido Hefner. Ele ainda tentou fazer um segundo ensaio com a estrela, mas ela desistiu, segundo o próprio publisher.
O pior ainda estaria por vir.
Marilyn Monroe morreu em 1962 e, três dias depois, seus restos mortais foram repousar no Pierce Brothers Westwood Village Memorial Cemetery, um pequeno e discreto cemitério no bairro de Westwood, em Los Angeles. Mas abriga Natalie Wood, Dean Martin, Farrah Fawcett, Frank Zappa, Truman Capote, Ray Bradbury e outros nomes lendários.
Ao contrário de outros lugares de repouso eterno da cidade do cinema, ele não é uma atração turística conhecida, mas um pedacinho de terra escondido entre arranha-céus em um dos espaços mais concorridos da cidade. Você pode andar por ele sem ser incomodado por ônibus apinhados por pessoas com celulares.
A lápide de Marilyn, por anos, recebeu as flores do seu segundo marido, a lenda do beisebol Joe DiMaggio, e ainda é marcada por batons de fãs que a beijam.
Em 2017, quando morreu, adivinhem onde Hugh Hefner escolheu repousar?
Sim, ele havia comprado a cripta AO LADO do jazigo de Marilyn Monroe, em 1992, por US$ 75 mil, e declarou ao “Los Angeles Times”: “Acredito em simbolismo. Passar a eternidade ao lado de Marilyn é muito bom para deixar escapar.”
Uma exploração póstuma que mostra o fascínio exercido por Marilyn Monroe. E o peso que carregava em suas costas.
Até hoje.
É quando voltamos a “Blonde”, filme de Andrew Dominik que estreia na Netflix, em 28 de setembro.