Bono encontra o que procura
Semana traz documentário do líder do U2, novo Wes Anderson, "Coração Valente", filme do criador de "Succession" e mais.
Nesta edição:
Documentário intimista desmonta proteção midiática do U2.
Talvez você mude de ideia sobre Bono. Ou não.
Como relação com as mortes da mãe e do pai criou o filme.
Wes Anderson entrega sua versão de James Bond.
Os 30 anos de “Coração Valente”, que mudou as batalhas no cinema.
Criador de “Succession” volta ao mundo dos bilionários.
A série mais insana do ano. Talvez da história.
Música da semana
Já vi mais shows do U2 que deveria e menos que gostaria, de São Paulo a Dublin, de Londres a Las Vegas. Participei de entrevistas com a banda e com metade dela. Fui em eventos exclusivos com a presença de Bono e The Edge. Tenho discos autografados.
Acho que posso dizer que sou fã do U2.
Quando alguns amigos questionam, sempre os lembro de que tenho idade suficiente para lembrar de quando David Bowie era considerado “ultrapassado” e “irrelevante” pelos “influencers” da época (anos 2000). Deu no que deu, né?
Nunca fui radical. Concordo com alguns argumentos que escapam do pensamento de manada que surge em redor do U2.
Sempre tive certas restrições a como o grupo irlandês tentava controlar o que era dito sobre ele. Havia uma sensação de mistificação exagerada da banda, muito devido ao messianismo adotado por Bono, seu vocalista, nos anos 80.
Tanto que o U2 precisou dar uma pausa brusca ao fim daquela década para se “reimaginar” após o segmento “Lovetown” da turnê do álbum “The Joshua Tree”, o maior sucesso do grupo, mas já depois do lançamento do divisivo “Rattle and Hum”.
Ao retornar com um ar satírico e mais europeu nos anos 90 com “Achtung Baby”, o U2 pareceu descer um pouco os muros e enfraquecer suas defesas de uma imagem de perfeição. Ao brincar com presidentes de nações, se declarar maior que John Lennon e brincar com transmissões ao vivo constantes pela primeira vez na história de uma turnê de rock, Bono mostrou um lado seu mais bem-humorado, mesmo que irônico.
Mas ainda havia proteção.
Proteção essa que foi abalada pela publicação do ótimo livro “U2: At the End of the World”, do veterano jornalista Bill Flanagan. Com acesso total ao U2 durante a revolucionária turnê ZooTV, Flanagan foi mais a fundo que a banda previu e trouxe histórias sobre a época insana de Adam Clayton, quando o grupo tocou sem ele pela primeira vez, declarações íntimas, causos secretos, perdas financeiras, mulheres e guerras. O baterista Larry Mullen, o mais discreto dos quatro, não gostou de virar um livro menos fechado. Decidiu nunca mais fazer algo parecido -tanto que os livros seguintes foram do círculo interno da banda.
O U2 continuou sendo uma máquina de engrenagens azeitadas e fechadas.
Até a pandemia mudar tudo.
Foi quando Bono decidiu sentar e contar sua história em um livro.
O livro virou disco.
E o livro virou uma série de apresentações solo em teatros.
E essas apresentações viraram “Bono: Histórias de ‘Surrender’”, filme documentário que entra nesta sexta (30) no catálogo do streaming Apple TV+.
E, ao contrário do álbum “Songs of Innocence”, que pode ser considerado o embrião de todo esse projeto, o longa não surge de surpresa nos iPhones de todo mundo.