Como "Pulp Fiction" mudou o cinema moderno
A obra-prima de Quentin Tarantino completa 30 anos. Saiba sua importância, 10 fatos pouco conhecidos sobre o filme e mais.
“Pulp Fiction” faz 30 anos hoje.
Ou quase isso.
Como o filme estreou no Festival de Cannes, em maio, mas só foi entrar em circuito comercial nos EUA em outubro de 1994, festividades pululam todos os meses.
Uma das mais bacanas aconteceu em junho passado (2), em Los Angeles, quando o filme foi exibido ao ar livre no cemitério Hollywood Forever em uma homenagem conjunta a Johnny Ramone, guitarrista dos Ramones morto em 2004.
Claro que eu estava lá.
Antes da sessão, tivemos um show especial do Cretin Commandos, uma banda-tributo aos Ramones formada por gente famosa como Billy Idol, CJ Ramone e Tim Armstrong (ex-Rancid), e apresentada por Rosanna Arquette, uma das atrizes de “Pulp Fiction”.
Mas a estrela da noite foi John Travolta, vestido com casaco de couro e tudo.
“Hoje à noite, celebramos os Ramones, o maior grupo punk da história, Johnny Ramone, e ‘Pulp Fiction’, um dos seus filmes preferidos”, discursou Travolta, que estava esquecido até Quentin Tarantino o resgatar para o papel do assassino Vincent Vega.
“É o aniversário de 30 anos de ‘Pulp Fiction’. E o TCM disse que foi um filme que mudou a história do cinema ao lado de ‘Lawrence da Arábia’ e “E O Vento Levou…” Eu não vou debater isso, porque certamente mudou minha história. Então, se vocês não o viram numa telona, essa é a maneira certa de assistir.”
Nem foi a coisa mais louca que já fiz relacionada a Tarantino.
Por exemplo, eu já “salvei a vida” do diretor.
Brincadeira. Mas conto.
Durante as filmagens de “Django Livre”, encontrei Tarantino no set externo que servia de casa para o personagem de Leonardo DiCaprio. No meio do nosso papo ali entre às árvores da região da Louisiana, um dia depois de uma tempestade castigar a região por uma semana, uma aranha caiu no ombro do cineasta. Não contei conversa e meti o tapão na criatura -nenhum Tarantino foi machucado nesta história e ele agradeceu o gesto.
Tem mais. No mesmo ano, fui numa festa do longa em Cancún na qual Jamie Foxx assumiu as pickups e o microfone para ficar tocando música a noite toda e animando os convidados com palavras de ordem para Tarantino (ele basicamente repetia o nome “Tarantino” de todas as formas possíveis) e DiCaprio, que fumava num recinto separado e não se misturava com a galera. Noite surreal.
Não para por aí. Quando “Os 8 Odiados” chegou a ser cancelado por ter o roteiro vazado, ele ganhou uma leitura de roteiro num teatro em Los Angeles com Tarantino comandando a ação e um elenco com vários nomes importantes no palco, como Samuel L Jackson, Tim Roth, Kurt Russell, Amber Tamblyn Michael Madsen, Walton Goggins e Bruce Dern. Ainda tenho um pôster assinado por Jackson.
Já participei de uma maratona no cinema de sua propriedade, o New Beverly, que consistia em assistir a todos os oito filmes de Tarantino, que passavam à meia-noite de sextas-feiras consecutivas. Cada noite, eu ganhava um carimbo numa cartela. Com a cartela completa, o direito de assistir à sessão nunca mostrada comercialmente da cópia de “Kill Bill" completa com os dois longas fundidos. Além disso, vários mimos que guardo até hoje como tesouro.
Meu favorito é essa coleção de pins que vem numa caixa de fita VHS, agora autografada por Tarantino. Cada pin representa um longa do cineasta. Consegue adivinhar qual é qual?
Qual a razão da comoção?
“Pulp Fiction” é um dos filmes mais importantes do cinema moderno. Antes dele, havia um vácuo deixado pela geração de Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, George Lucas e do resto da “New Hollywood” que alienou boa parte do público nos anos 80 e boa parte dos 90. Tarantino mostrou que o cinema independente antenado com a nova geração poderia novamente ser sucesso de bilheteria e de crítica -seu longa foi feito por US$ 8 milhões e rendeu mais de US$ 200 milhões.
Assim como as gravadoras corriam atrás do novo Nirvana, grupo que revolucionou o rock no início da mesma década, os estúdios vasculhavam todos os novos cineastas em busca do novo Tarantino. Surf Music voltou a ser cool. Séries de TV começaram a sair da mesmice. Heróis (infalíveis ou não, cortesia de “Duro de Matar”) ficaram ultrapassados. O lance era ser sujão, bad boy, perigoso.
A sede dos estúdios, claro, gerou uma pancada de imitadores baratos e filhotes bastardos de Tarantino. Gente que nunca tinha passado perto de ser indie estava querendo o selo de aprovação de um cinema de diálogos cortantes, personagens exóticos e violência das boas -a distribuidora brasileira até fez questão de enfiar um o subtítulo ridículo “Tempo de Violência” no filme. Alguns raros foram bem-sucedidos. A maioria voltou a fazer o que sabia fazer depois do desprezo da geração grunge.
Mas não importava mais. “Pulp Fiction” havia mudado o cinema pop para sempre. E seus efeitos duram até hoje.
Mas talvez você não conheça alguns destes fatos sobre o aniversariante de hoje:
O ator Danny DeVito é produtor executivo do filme. Ele assinou o cheque sem ler o roteiro ou ver “Cães de Aluguel”, primeiro filme de Tarantino, que ainda estava incompleto na época.
“Pulp Fiction” foi concebido como um projeto que englobaria três histórias dirigidas por três diretores diferentes: Tarantino, Roger Avary (que assinou o produto final como coroteirista) e Adam Rifkin (“Rotação Máxima”).
Tarantino queria fazer o filme com Mike Medavoy, fundador da Orion, casa de “RoboCop” e “O Exterminador do Futuro”, e atual mandachuva da Columbia TriStar. Mas o executivo recusou por achar o longa muito… violento!
Harvey Weinstein comprou os direitos de distribuição de “Pulp Fiction” e tinha ideias mirabolantes para o elenco, mas esbarrou num problema: DeVito tinha a palavra final no contrato na escolha de elenco e corte, e ele passou a prerrogativa para o jovem Tarantino.
Weinstein queria Daniel Day Lewis no papel de Vincent Vega, que foi parar no colo de John Travolta, um ator que estava totalmente esquecido por Hollywood, mas adorado por Tarantino.
Harvey Keitel, que ajudou Tarantino em “Cães de Aluguel”, foi atrás de Bruce Willis para convencê-lo a assumir um dos papéis em “Pulp Fiction”. Ele nem precisou: o astro sabia todas as falas decoradas de “Cães de Aluguel”. Depois de um papo na beira da praia com Tarantino, ele fechou o acordo.
Rosanna Arquette só foi ver o filme recentemente, porque achava muito violento e ela estava grávida na época do lançamento.
Samuel L. Jackson quase foi descartado pela direção de elenco. Seu teste não foi dos melhores, mas a agente disse ao produtor Lawrence Bender que o ator não sabia que estava já no teste final. Achava que era apenas uma leitura de roteiro. Deixaram Jackson refazer o teste e, daquela vez, deu tudo certo.
O famoso monólogo de Jackson antes de meter bala recitando “Ezequiel 25:17” não existe na Bíblia exatamente como proferido. Ele foi retirado do filme de artes marciais “Karate Kiba” (1973), estrelado por Sonny Chiba, que, anos depois, trabalharia com Tarantino em “Kill Bill”.
O sobrenome de Vincent Vega é uma homenagem de Tarantino a sua cantora preferida, Suzanne Vega, famosa pela música “Luka”.
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Então DeVito salvou o filme dos Weinstein, que herói
Sua coleção é de dar inveja mesmo em quem não coleciona nada (eu). Inestimável.
Pulp Fiction teve boa bilheteria nos cinemas do Brasil? Ou foi desses casos que só estourou depois? Lembro que em Natal só ficou uma semana em cartaz. Fui na última sessão do último dia, meio na sorte, e teve muita gente não entendendo/gostando do filme na saída.