Conversas Brutas: Alejandro González Iñárritu
O cineasta mexicano volta após sete anos com o ambicioso "Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades" e fala sobre morte, México, carreira e problemas com a imigração americana.
Afinal, qual a diferença entre ambição e pretensão?
Acho que a resposta nunca é de quem realiza uma obra de arte, mas de quem a percebe.
Às vezes, fala mais sobre quem usa o adjetivo que sobre o filme adjetivado.
O ato de filmar já é uma pretensão em si, não?
Se um sujeito ousa peitar toda uma indústria, ele seria um visionário ou um bufão?
Quem acha muita pretensão sair de um país latino-americano para fazer filmes premiados em Hollywood, todos sinônimos de excelência cinematográfica, pode estar vendo seus próprios limites e projetando naquele diretor.
E todas as visões são válidas. Você não precisa convencer o receptáculo da mensagem de que seu alvo é um artista revolucionário. O contrário também é verdade.
Filmes como “Blade Runner” e “Muito Além do Jardim” foram taxados de pretensiosos. Viraram revolucionários com o passar dos anos.
O contrário acontece com filmes que são encarados como “ambiciosos” e terminam esquecidos no fundo da memória.
O que será de “Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades”, novo filme de Alejandro González Iñárritu, seu primeiro desde “O Regresso”, lançado sete anos atrás?
A resposta pode ser decepcionante: sei lá.
Mas não me importo.
“Bardo” é ambicioso e pretensioso. Pode apostar. Contudo, em tempos de infantilização social, também é um alívio.
O próprio Iñárritu sabe que fez algo diferente. Na pré-estreia do longa em Los Angeles, onde apresentou uma versão com 22 minutos a menos em relação ao apresentado em Veneza, dois meses antes, ele já avisa para o público presente que se preparasse para uma viagem sem muito sentido.
Ele não estava brincando.
“Bardo” é uma espécie de conto de Neil Gaiman com LSD.
32 sequências aparentemente aleatórias sobre um jornalista e documentarista (Daniel Giménez Cacho, ótimo) que volta ao México para receber um prêmio pelo conjunto da obra. Neste retorno, ele lida com questões como mudanças sociais, colonialismo, velhice, sexo, passado, amizade, fama, pretensão (há), imigração e morte.
É o pior filme para se assistir na Neftlix, onde ele pousa a partir de hoje.
Com a arma do controle remoto, dificilmente alguém resistirá ao impulso de pausar diversas vezes no meio das 2h40 do filme lindamente dirigido por Iñárritu e fotografado por um Darius Khondji (“Se7en”, “Amour”) energizado e psicodélico.
“Bardo” é o filme que exige a necessidade de você “estar preso” no cinema.
Não vou negar, há momentos em que os olhos parecem pesar, mas o cinema te obriga a aguentar. Aos poucos, o filme vai te conquistando, abrindo assuntos e pensamentos em sua mente que você não esperava encarar. É uma experiência emocional e sensorial, do som ao texto. É uma experiência particular.
É um filme para se amar. É um filme para se odiar.
Mas, acima de tudo, é um filme para falar mais sobre quem está deste lado da tela.
Isso é pretensão?
Alejandro González Iñárritu tenta responder isso nesta entrevista abaixo em que o diretor mexicano vencedor de quatro Oscar fala sobre envelhecer, sua relação com a morte, histórias particulares de imigração (sim, ele costumava ir para a “salinha” todas as vezes em que chegava aos EUA) e felicidade.
“Não acredito em biografias. Acho que são mentirosas. A minha seria a mais tediosa da história”, diz o cineasta.
Se quiser ler o entrevistão “Conversas Brutas” com Iñárritu, clique no botão abaixo. Ou vá ver o filme!