Fã nem sempre está certo
"Um Completo Desconhecido" usa período da vida de Bob Dylan para falar sobre arte e integridade em um dos melhores filmes do ano. Será que Timothée Chalamet levará o Oscar?
Nesta edição:
Bob Dylan elétrico mostra que arte existe acima do que os fãs esperam dos seus ídolos.
“Ainda Estou Aqui” é indicado ao Critics Choice Awards.
QUATRO novas séries para ver AGORA.
Música da semana.
Quando a Searchlight/Disney me convidou para a première mundial de “Um Completo Desconhecido”, eu já tinha marcado de assistir ao filme de James Mangold (“Logan”) nos Estúdios Fox, perto da minha casa e à sombra do Nakatomi Plaza.
Mas não pensei duas vezes em aceitar o convite. Não era nem pela vontade de ver o longa na tela armada no Dolby Theatre, porque já vi alguns eventos no local -até jantei em cima do palco, certa vez.
E, sim, por estar curioso: será que Bob Dylan, personagem retratado no filme por Timothée Chalamet, iria à festa?
Para quem conhece Dylan, um pensamento assim seria um misto de inocência e burrice.
Avesso a festas e multidões, o cantor e compositor não compareceu nem mesmo à cerimônia de entrega do Prêmio Nobel de Literatura, em 2016, se tornando o único músico agraciado com a honraria.
Por que diabos iria para a première de um drama sobre quatro anos essenciais da sua vida e carreira?
Bem, esse tweet abaixo não ajudou a minar minhas esperanças.
A conta de Dylan raramente publica algo. Ainda mais elogiando um filme sobre sua vida. Grandes chances de nem ser o lendário menestrel de voz anasalada no controle do seu Twitter, mas ele (ou seu assessor) precisa aprovar tudo. Dylan poderia simplesmente ter ficado calado sobre o longa. Mas ele elogiou o título (ironia, já que vem de “Like a Rolling Stone”?) e o talento de Chalamet, dando a entender que nem assistiu à obra, o que faria mais sentido. Citou o “fantástico” livro “Dylan Goes Electric!”, de Elijah Wald, inspiração maior de “Um Completo Desconhecido”.
A fagulha de esperança foi apagada rapidamente assim que sentei no meu assento do Dolby Theatre, perto de Kevin Bacon e sua mulher, Kyra Sedgwick; de Scoot McNairy, que faz o gênio Woody Guthrie, maior ídolo de Dylan; e de um bocado de executivos que discutiam as férias nas vinícolas da África do Sul.