Há algo de podre no reino de Hollywood
Estúdios adotam táticas radicais para esconder opiniões críticas de filmes e séries, privilegiando reações positivas.
Nesta edição:
O dia em que deixei Brad Pitt com uma pulga atrás da orelha
Astro veterano corre contra jovens no adrenalinesco “Fórmula 1”
A nova Hollywood corre para esconder seus filmes e séries
Estúdio de “Bailarina” adota estratégia polêmica para disseminar opiniões positivas e volta atrás correndo após comoção
Quarta temporada de “O Urso” corre contra o tempo sem divulgação
Filho de cineasta indicada ao Oscar corre pela prefeitura de Nova York
Música da semana
Já entrevistei Brad Pitt cinco vezes na carreira -sem contar suas inúmeras coletivas com dezenas de jornalistas.
A primeira foi pouco antes do lançamento de “O Curioso Caso de Benjamin Button”, em 2008.
Pode parecer mentira, mas, na época, Pitt era um astro mais inacessível (qual não era?) e misterioso. Tinha acabado o casamento com Jennifer Aniston e agora era parte do amálgama conhecido como Brangelina, apelido recebido quando começou um relacionamento com Angelina Jolie depois das filmagens de “Sr. e Sra. Smith”, em 2005.
Pitt sempre foi alguém interessante de conversar. Apostava em filmes de diretores ousados como produtor-sócio da Plan B, mas não deixava de lado as superproduções bobocas. Havia dois lados dentro dele, claramente.
Mesmo assim, anos atrás, talvez movido pela bolha que se cria ao redor de certos nomes, Pitt nunca foi um entrevistado tão fascinante quanto sua então mulher, Angelina Jolie -que, certa vez, pediu para uma assessora do estúdio sair do quarto do hotel onde conversávamos para que não se intrometesse na entrevista sobre política, carreira e cinema.
Talvez nosso papo mais aberto tenha sido em 2015, quando ele trabalhou com Jolie em “À Beira-Mar”.
No caso de “Benjamin Button”, entrevistei Pitt ao lado do diretor David Fincher, e de parte do elenco formado por Cate Blanchett, Taraji P. Henson, Julia Ormond e outros.
Eles formavam um círculo ao meu redor. No centro, uma mesinha, onde coloquei meu iPod vermelho e preto especial do U2 com um microfone acoplado como acessório que gravava as entrevistas. Pode parecer comum hoje em dia, mas na época era totalmente inovador. Tão inovador que eu ainda deixava meu gravador de fita de apoio só para garantir.
Tão inovador que Brad Pitt ficou encucado.
Ele não parava de olhar para o iPod, que girava aleatoriamente na mesinha por estar apoiado nos seu gancho de prender no cinto.
Seus colegas respondiam minhas perguntas e Pitt olhava para o aparelho.
Quando acabamos o encontro, todos se retiraram. Pitt se aproximou sozinho de mim e perguntou o que era aquele dispositivo que eu estava usando na entrevista.