Indiana Jones e o Chamado da Mesmice
"A Relíquia do Destino" tenta falar sobre tempo, mas apela para fórmulas batidas, vilões sem charme e um roteiro capenga.
Voltar de férias não é tarefa fácil.
Ainda mais quando você precisa encarar o retorno de um dos seus heróis de infância após uma recepção, digamos, fria no Festival de Cannes.
Indiana Jones ganhou vida no fim dos anos 70 quando George Lucas chamou Philip Kaufman para trabalhar em um projeto cinematográfico que resgataria os heróis das aventuras dos antigos livros pulp, como Allan Quatermain, Zorro e Doc Savage.
Com a saída de Kaufman, que foi trabalhar com Clint Eastwood, e a chegada de Steven Spielberg, Indiana Jones ganhou vida em 1981 com “Os Caçadores da Arca Perdida”.
A aventura do arqueólogo Henry Walton “Indiana” Jones Jr. (Harrison Ford) se tornou um clássico do cinema que gerou imitadores e imitações, mas formou centenas de novos cineastas.
E também gerou mais duas sequências, “Indiana Jones e o Templo da Perdição”, em 1984, e “Indiana Jones e a Última Cruzada”, de 1989 -além da breve série de TV “O Jovem Indiana Jones”, games, revistas em quadrinhos e adaptações literárias.
Depois disso, o charmoso professor de história antiga que vira arqueólogo aventureiro de chicote e chapéu parecia ter pendurado o casaco de couro.
Mas o início da década de 2000 começou a regurgitar um novo filme. Diretores e roteiristas como M. Night Shyamalan, Frank Darabont, Stephen Gaghan e Tom Stoppard chegaram a trabalhar no projeto que me recuso a chamar de “Indiana Jones 4”.
Lucas nunca ficou satisfeito, então decidiu ele mesmo rabiscar o novo tratamento com Jeff Nathanson ajudando na trama. No fim, David Koepp, protegido de Spielberg desde “Jurassic Park”, entrou na equipe para finalizar o roteiro do famigerado “Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal”, lançado em 2008.
O filme foi bem de bilheteria num ano de “O Cavaleiro das Trevas” e “Homem de Ferro”, mas destruído pela crítica depois da première, adivinhe onde, no Festival de Cannes.
“O Reino da Caveira de Cristal” virou um dos maiores exemplos de como não ressuscitar uma franquia adorada.
Ganhou até piada pesada em “South Park”.
O personagem parecia extinto em sua concepção original.
Até aparecer a Disney.
A dona do Mickey comprou a Lucasfilm pela bagatela de US$ 4 bilhões. Assim, se tornou a dona dos direitos de “Star Wars” e, claro, “Indiana Jones” -finalizando um acordo de distribuição com a Paramount, estúdio dos longas originais, no ano seguinte.
Em 2015, a volta de Jones já estava no forno.
Harrison Ford topou voltar mais uma vez para finalizar seu arco. Lucas estaria tranquilo como produtor executivo sem muito poder de veto. Shia LaBeouf, que passou de queridinho de Spielberg a persona non grata em Hollywood em poucos anos, não retornaria ao papel de Mutt Williams. E Spielberg confirmou sua presença.
Mas o cineasta começou a trabalhar em outros projetos, um deles extremamente pessoal (“Os Fabelmans”).
Claramente estava em outra realidade.
“Indiana Jones 5” foi adiado algumas vezes até que Spielberg, em 2020, anunciou sua partida como diretor, passando o bastão para James Mangold, um nome que nunca ganhou o selo de excelência, mas sempre produziu filmes de boa qualidade, como “Logan” e “Ford Vs. Ferrari” -aquele aluno nota 8.
Mangold chegou e começou a trabalhar com Jez e John-Henry Butterworth (“Ford Vs. Ferrari”) no roteiro de David Koepp.
E assim “Indiana Jones e a Relíquia do Destino” ganhou vida para estrear nos cinemas do Brasil em 29 de junho.
Tenho uma boa e uma má notícia sobre o filme.