Não é só entretenimento
Influência de Hollywood na corrida pela presidência dos EUA mostra como o namoro entre política e cinema ainda está forte.
Nesta edição:
A disputa presidencial nos EUA virou uma luta entre Hollywood e Vale do Silício.
Taika Waititi adapta filme de Terry Gilliam para série.
Roland Emmerich entrega seu “Gladiador” para streaming.
O novo Batman que a MAX recusou.
Música da semana.
“Se um ator pode ser influente na venda de desodorantes, ele pode ser igualmente útil na venda de ideias”.
A frase foi proferida por Marlon Brando durante a grande marcha de Washington D.C., em 1963.
Mas pode muito bem servir para a atual campanha eleitoral norte-americana, uma das mais interligadas com a indústria cinematográfica.
A conexão entre Hollywood e política não é novidade nenhuma.
No fim da década de 1910, a agência que viria a ser o atual FBI manteve agentes monitorando “suspeitos radicais de Hollywood” com medo da influência de astros e estrelas na venda das ideias comunistas.
Charles Chaplin, possivelmente o primeiro grande astro hollywoodiano politizado, foi perseguido por anos a fio por suas ideias esquerdistas, sofrendo ataques falsos ao seu caráter e até tentativas de impedi-lo de retornar aos Estados Unidos quando viajou para sua Inglaterra natal, em 1952, para o lançamento de “Luzes da Ribalta”.
Na grande marcha de 1963, ali estavam Marlon Brando ao lado do escritor James Baldwin e… Charlton Heston, na época, ainda um Democrata. Sim, o falecido presidente da Associação Nacional de Rifles e astro de “O Planeta dos Macacos” era do partido que hoje desafia Donald Trump.
Por mais maluco que seja, Heston era considerado um liberal na década de 60. Tanto que teria recusado trabalhar com John Wayne, que defendia abertamente a “supremacia branca”, em “O Álamo”, filme de 1960 que foi a estreia do astro na direção.
Heston começou a mudar de ideologia a partir dos anos 70 e se tornou Republicano em 1987, quando achou que as diferenças culturais entre ele e seus correligionários eram opostas demais para seu gosto.
Foi mais ou menos como seu amigo e colega de profissão, Ronald Reagan, que começou no partido Democrata e virou Republicano em 1962 até assumir a presidência dos EUA em 1981 e deixar o cargo em 1989, num dos governos norte-americanos mais conservadores da era moderna.
A intersecção entre política e Hollywood nunca parou de existir.
O astro Arnold Schwarzenegger foi governador da Califórnia entre 2003 e 2011 pelo partido Republicano. O comediante Al Franken foi senador pelo estado do Minnesota entre 2009 e 2018 -até renunciar por acusações de má conduta sexual. O ator Fred D. Thompson (1942 - 2015) foi senador pelo Tennessee. Clint Eastwood virou prefeito da linda Carmel-by-the-Sea na década de 80. O apresentador Jerry Springer foi prefeito de Cincinnati. O lutador de luta livre de Jesse Ventura teve um mandato como governador do Minnesota. O próprio Trump ficou ainda mais famoso comandando o programa de TV “O Aprendiz”.
A lista é imensa.
Mas poucas vezes a influência de Hollywood numa eleição presidencial dos EUA teve tanta repercussão e impacto quanto em 2024.