Nem os dinossauros salvam "Jurassic World: Recomeço"
Longa de Gareth Edwards com Scarlett Johansson recicla outros filmes da franquia em trama constrangedora e conveniente.
O “Jurassic Park: Parque dos Dinossauros” original, dirigido por Steven Spielberg, em 1993, falava sobre os perigos de ressuscitar dinossauros em nome da ganância.
32 anos, o estúdio continua sem entender a mensagem principal do longa. Volta a ressuscitar dinossauros em nome da ganância, mas quem corre perigo é você.
“Jurassic World: Recomeço”, sétimo filme da franquia, está sendo vendido como um recomeço nos moldes da obra-prima de Spielberg que revolucionou os efeitos visuais em Hollywood.
Tem quem acredite.
A Universal trouxe de volta David Koepp, roteirista do primeiro longa e uma das figuras mais superestimadas do cinema, que bolou um plano para apagar a trilogia “Jurassic World” de Chris Pratt e Bryce Dallas Howard nos primeiros 15 minutos: os dinossauros que infestavam todo o planeta não suportam o clima na Terra e começam a morrer, a não ser, veja bem, por uma pequena ilha equatorial, uma área considerada proibida para visitantes.
Com o digno “Presença” e o ótimo “Código Preto” lançados em 2025, Koepp deve ter escrito “Jurassic World: Recomeço”, que estreia nesta quinta-feira nos cinemas brasileiros, entre as sessões de yoga e o café da manhã: não há a mínima preocupação em parecer refrescante, diferente e empolgante.
O roteiro é uma colagem malandra de dois “Jurassic Park” disfarçada de sequência. É um filme ecológico: totalmente feito por cenas recicladas. Nem mesmo Gareth Edwards (“Rogue One”) consegue inserir sua personalidade.
Não sei dizer qual o pior “Jurassic World” já feito, sendo sincero. Cada um possui algo ruim para chamar de seu. “Recomeço”, no entanto, disputa a dianteira com o anterior -e olhe que superar Chris Pratt pilotando uma moto no meio de dinossauros é um feito e tanto
Mas fica pior pelo fato de se vender como “uma volta às origens”. E até alguns críticos compraram essa jogada de marketing de terceira categoria. Não é uma volta às origens. É uma cópia descarada sem a menor magia ou deslumbramento com a trama mais preguiçosa do ano.
Rupert Friend (“Homeland”) assume o papel batido do representante de um conglomerado farmacêutico bilionário que está juntando uma equipe para extrair o sangue de três dinossauros que pode curar as doenças coronárias para sempre. Scarlett Johansson faz Zora, uma mercenária experiente que não sabe fazer muita coisa a não ser atirar e não tomar decisões certas; Jonathan Bailey vive Indian… Dr. Henry Loomis, um paleontólogo com os princípios de um jogador de futebol que sonha em trabalhar na Europa; Mahershala Ali interpreta o faz-tudo-dono-do-barco-que-seria-a-única-forma-de-chegar-ao-local-proibido-mas-logo-descobrimos-que-um-helicóptero-também-pode-sobrevoar-a-ilha-mas-ei-quem-se-importa-olha-o-dinossauro; e mais alguns rostos que nem vale a pena citar porque você sabe que só estão ali para servir de isca para os monstros -a maioria formada por híbridos, o que não serve nem mesmo para fins educativos.
O roteiro do filme parece uma loja de conveniência 24 horas à disposição dos realizadores. A começar pelos três dinossauros caçados, enormes criaturas que, claro, vivem no céu, na terra ou no mar. Uau, que coincidência. No oceano, o mossassauro ataca o barco de uma família (não deveria ser uma área proibida?) irritante que leva a tropa de Zora ao seu encontro, mas claro que isso os deixa à deriva na famigerada ilha proibida onde a única saída é encontrar os dinossauros mágicos e correr para uma vila de cientistas, abandonada, anos atrás, quando um acidente (um papel de chocolate, sério) liberou um supermegaultrahiperdinossauro mutante que parece um cruzamento de baleia beluga com um xenomorfo de “Alien”.
Não está convencido?
Que tal o personagem do pai da família, que machuca a perna, passa a usar uma muleta improvisada, mas corre feito Usain Bolt quando precisa e lembra do ferimento quando o roteirista acorda do sono das três da tarde.
Não achou conveniente? Espere a sequência na qual o grupo de exploradores mais confusos desde os astronautas de “Prometheus” desce por um penhasco abissal, encontra o ninho do segundo pokemó… dinossauro em um templo (??), sofre uma perda (que ninguém se importa por mais de 30 segundos), somente para revelar que havia uma ESCADA que partia do cume por quilômetros até o fundo do vale.
Desde “Missão: Marte” que não ria tanto com uma cena em que não deveria rir.
Neste momento, tentei colocar no cérebro de que estava diante de uma comédia satírica. É uma pena, pois há duas sequências realmente bacanas no longa: uma ainda no oceano e a apresentação do T-Rex, que conseguem ser engraçadas e empolgantes.
Mas na maior parte do tempo, Edwards parece ser copiloto no próprio filme, querendo emular cenas clássicas de Spielberg (e não apenas da franquia) e controlar os efeitos visuais, que se revezam entre capas de caderno da Cedibra digitais com as criaturas incrivelmente realistas da série.
A verdade é que todo mundo envolvido em “Jurassic World: Recomeço” parece refletir os personagens na tela: mercenários com a desculpa necessária para divulgar que deseja o bem da humanidade, mas sem nunca perder a grana de vista.
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