O futuro da cultura pop está aqui?
James Gunn revela planos para a DC, duas ótimas novas séries no ar, trilha em vinil especial e... um "Seinfeld" feito por AI?
James Gunn tem muitos amigos.
Mas certamente fez muitos inimigos agora com sua nova posição de chefão da DC no cinema, TV e games -ao lado do produtor Peter Safran.
Na sua apresentação de uma parcela do seu plano de 8 a 10 anos para a DC, intitulado “Deuses e Monstros”, o cineasta/executivo não conteve sua língua, algo bem inusitado no mundo de politicagem de Hollywood:
“Como todo mundo provavelmente sabe, a história da DC é bem bagunçada. Era uma esculhambação fodida. Eles estavam distribuindo propriedades intelectuais como se fossem favores de festa para qualquer criador que desse um sorriso”.
UAU. Verdade, mas… UAU.
Gunn anda falou que Henry Cavill foi “jogado de um lado para o outro”, inclusive “pelas antigas gestões [da Warner]” em relação à sua aparição em “Adão Negro”, que foi a tentativa de golpe de The Rock para assumir a DC.
O todo-poderoso da DC também revelou os primeiros títulos que darão uma nova cara ao Universo DC no cinema e na TV, uma mistura de personagens secundários inesperados e novas explorações de Batman, Superman e Mulher-Maravilha.
Creature Commandos: Série animada em sete partes escrita pelo próprio Gunn e já em produção. É baseada nos quadrinhos criados por J. M. DeMatteis e Pat Broderick nos anos 80 sobre um grupo de criaturas combatendo nazistas na Segunda Guerra. Mas o título já sofreu algumas modernizações ao longo dos anos, então espere algo diferente.
Waller: A personagem de Viola Davis que comanda os anti-heróis ganha série própria. Não ficou claro se ela substitui “Pacificador”, criada pelo próprio Gunn, ou se é um derivado extra. Será escrita por Christal Henry (uma das roteiristas de “Watchmen”, da HBO) e Jeremy Carver, da cancelada série “Patrulha do Destino”, já na HBO Max.
Superman Legacy: O filme que realmente dá o pontapé inicial no novo DCU, escrito e possivelmente dirigido por James Gunn. Safran já divulgou a data de estreia (11 de julho de 2025) e que a trama não será mais uma nova origem do Superman, mas sobre o herói tentando equilibrar sua origem kryptoniana e a criação terráquea. Gunn não esconde que é fã de Grant Morrison, então podemos esperar algumas ideias vindo do título “Grandes Astros: Superman”. “Ele é a bondade em um mundo que acha que a bondade é algo antiquado”, disse Safran no lançamento.
Lanterns: Esqueça tudo que existia sobre os planos de Greg Berlanti, antigo “dono” da DC no canal CW, para os Lanternas Verdes. Enquanto a série de Berlanti era uma ópera espacial ambiciosa, a nova (sem participação alguma do antigo criador) será uma trama detetivesca na Terra no estilo de “True Detective”. Neste caso, teremos John Stewart e Hal Jordan como protagonistas -e ambos devem aparecer em outros projetos do DCU.
The Authority: Filme sobre uma espécie de "Liga da Justiça” com heróis mais humanos em suas falhas e ambições, tratados como popstars e se comportando como popstars. O grupo foi criado por Warren Ellis, mas ganhou mais notoriedade nas mãos de Mark Millar, cujo trabalho em “Os Supremos” serviu de base para a Marvel nos cinemas. Se bem realizado, pode ser o tiro mais certeiro da nova direção, abrindo espaço para diversos outros títulos mais subversivos do selo Wildstorm.
Paradise Lost: Série para a HBO Max sobre a criação da ilha de Themyscira, lar das Amazonas de “Mulher-Maravilha”. É uma trama de intriga política, mas não está claro se terá alguma ligação com um novo filme da heroína, agora sem Patty Jenkins e, talvez, Gal Gadot.
The Brave and the Bold: O filme que apresentará o novo Batman do DCU, trazendo também o novo Robin na bagagem. É baseado na passagem de Grant Morrison pelo herói: Bruce Wayne descobre que tem um filho meio psicopata, Damian Wayne, criado pela mãe (Talia, filha de Ra's al Ghul) e por uma liga de assassinos, e precisa reeducar o garoto para assumir o manto do Robin. Será um novo Batman, já que o Morcegão de Robert Pattinson terá uma sequência novamente dirigida por Matt Reeves e com data marcada para 3 de outubro de 2025.
Gladiador Dourado: Uma série cômica para a HBO Max estrelada pelo herói que ganhou fama fazendo dupla com o Besouro Azul na passagem de Keith Giffen, J. M. DeMatteis e Kevin Maguire pela “Liga da Justiça Internacional”. A trama é sobre um perdedor do futuro que volta ao nosso presente com tecnologia avançada e finge ser um herói. Glen Powell, de “Top Gun: Maverick”, já se ofereceu para o papel e tem todo meu apoio.
Supergirl: Woman of Tomorrow: Filme baseado na minissérie da heroína escrita por Tom King e desenhada por Bilquis Evely. Essa Supergirl foi criada num pedaço de Krypton à deriva e viu todos que conhecia morrerem até chegar à Terra. “Ela é bem mais hardcore e não é a Supergirl que conhecemos”, disse Safran.
Monstro do Pântano: Mais uma tentativa de trazer a criatura trágica para os cinemas. Mas parece que James Mangold, fã do personagem, vai assumir a direção, o que dá uma ponta de esperança de que será feito da maneira correta.
O que achei do anúncio?
Como fã da DC desde moleque e tendo feito a cobertura pessoalmente de filmes como “Superman Returns”, a trilogia “Cavaleiro das Trevas”, “Watchmen”, “V de Vingança”, “Aves de Rapina”, “Coringa” e “Lanterna Verde”, decidi ficar em cima do muro desta vez.
Por quê?
Não gosto da ideia do “Elseworlds” na bandeira de personagens mais conhecidos, como Batman. Acho que é um selo para experimentações ou títulos que não se encaixam mais na ideia de Gunn, como “Shazam” e “Aquaman”. Jogando “Coringa 2” e “Batman 2” (e derivados, como “Pinguim”) neste selo, a confusão de anos anteriores da DC se perpetua. Teremos dois Batman ao mesmo tempo, algo que não é bom para o espectador e para o departamento de marketing (e nem mesmo para os criadores, que terão de conviver com a competição). Teremos dois Coringa, mesmo que um deles comece a desenvolver seu próprio universo. Tenho certeza de que Gunn acha o mesmo, mas suas mãos estavam amarradas por processos anteriores.
O que eu faria se tivesse liberdade para isso?
Conversaria com Todd Phillips e Matt Reeves sobre a possibilidade de união do mesmo universo. Phillips já me falou que seu Coringa é “um Coringa” e poderia ser figura de inspiração para o futuro vilão de Barry Keoghan. Esteticamente, os longas conversam facilmente com seus cenários realistas. Obviamente que isso é um devaneio, pois envolve tantos contratos e milhões que é melhor deixar num canto separado e torcer pelo melhor.
E faria uma série de sci-fi hardcore baseada em “Transmetropolitan”.
O que mais gostei da lista de “Deuses e Monstros” foi perceber a personalidade de James Gunn nela. Aberrações, azarões e ícones misturados no mesmo pacote.
Não, mentira. O que mais gostei mesmo foi a fala de Gunn sobre a “história vir sempre em primeiro lugar". Nada mais de começar a filmar sem saber o fim do longa (um tapinha em “Adão Negro” e no Snyderverso). Os filmes da DC sofrem muito com os roteiros capengas e derivativos. Isso deve mudar radicalmente.
Achei bacana que boa parte dos projetos tem alguma influência de Grant Morrison e Frank Quitely. Mas Morrison sempre foi um roteirista que escreveu para quadrinhos, sem ficar pensando o tempo todo em criar propriedades intelectuais para o cinema, tanto que a série “Happy” não colou.
Por isso mesmo, decidi esperar para criticar ou sair soltando rojões.
Vou julgar os filmes pelas suas qualidades, como sempre. É bom sempre baixar as expectativas depois de tantos anos de longas horrorosos da DC. Gunn é um cara inteligente, já produziu ou dirigiu filmes de heróis e vilões diferentes em tonalidade e execução, então está acostumado a variar o tom dependendo da história.
Mas estarei na primeira fila de “The Authority”.
O texto acima foi a newsletter grátis desta semana, já que o trabalho me impediu de mandar em separado na terça (valeu a pena, acreditem).
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