"O Menu" é um prato deliciosamente estranho
Filme com Ralph Fiennes e Anya Taylor-Joy é uma comédia satírica que não tem medo de chegar ao extremo.
Não passamos nenhum mês sem um novo programa gastronômico ou culinário na TV, ficção, documental ou reality.
Repletos de poesia, histórias transgressoras e a pose do “vou fazer do meu jeito, custe o que custar”, os chefs de cozinha viraram os novos rockstars, adorados por celebridades, mimados por ricaços e consumidos por fãs.
Sob a superfície, “O Menu”, que estreia nos cinemas brasileiros em 1º de dezembro, parece uma crítica à adoração exalada pelos chefs modernos.
Mas o longa escrito por Seth Reiss e Will Tracy, escritores do jornal satírico “The Onion”, e dirigido por Mark Mylod, que vem de “Game of Thrones” e “Succession”, não é mais uma cópia de “The Bear”, não é nem mesmo apenas sobre gastronomia.
É uma sátira mais profunda do consumo de comida por quem pode pagar e um questionamento da própria arte -seja gastronômica, seja plástica. É sobre capitalismo, poder e a cultura tóxica do “estou no meio direito à…”
Uma espécie de “O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante”, de Peter Greenaway, menos excessivo e mais controlado, “O Menu” acompanha uma gama de clientes abastados -e uma intrusa, Margot (Anya Taylor-Joy), que entrou de última hora como convidada de um fanático por alta gastronomia (Nicholas Hoult), seu novo namorado.
Além deste casal, o grupo ainda traz uma crítica (Janet McTeer) e seu editor (Paul Adelstein), um trio de playboys do mercado financeiro (Rob Yang, Arturo Castro e Mark St. Cyr), um astro decadente do cinema (John Leguizamo) e sua assistente (Aimee Carrero) e dois frequentadores assíduos (Reed Birney e Judith Light).
Como num bom romance de Agatha Christie, eles embarcam em um barco rumo a uma pequena ilha no Pacífico Noroeste dos EUA. Nela, há apenas um restaurante. O exclusivíssimo e hypado Hawthorne, comandado pelo chef Julian Slowik (Ralph Fiennes) e organizado pela recepcionista e faz-tudo Elsa (Hong Chau).
No início, parece que estamos vendo um episódio especial de “Chef’s Table”, a série da Netflix que revolucionou os programas gastronômicos na TV: pratos lindamente fotografados em câmera lenta por Peter Deming (“Mulholland Drive”), textos explorando os elementos frescos dos ingredientes, belas paisagens e clientes saboreando e divagando sobre o que estão comendo.
Mas o cineasta desde o começo mostra que estamos diante de algo diferente.
Há pitadas de estranheza nos pratos que vão se tornando mais e mais evidentes até culminar no momento em que tudo muda: o suicídio de um sous chef na frente de todos. A partir deste ato, “O Menu” começa a mostrar sua verdadeira natureza com um embate naturalmente esperado entre Margot e o chef de Fiennes.
“O Menu” é como um prato de composição afiada, com personagens deliciosos e um gosto novo, mas reconhecível. Deixa a desejar na sobremesa, no terceiro ato, quando não resolve alguns mistérios e ligações apresentadas no início do filme e entra numa espiral de loucura parecida com a de outra sátira de 2022, “O Triângulo da Tristeza”.
Ainda assim, um menu inesperado e sombriamente irreverente.
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