O que você procura na vida?
"Tipos de Gentileza” reúne Yorgos Lanthimos e Emma Stone após sucesso de "Pobres Criaturas", mas quem brilha é Jesse Plemons.
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Mas não me peçam ainda uma opinião formada sobre “Tipos de Gentileza”. Mas vamos juntos nesta viagem.
O longa é um retorno do grego Yorgos Lanthimos ao inconformismo narrativo depois das obras mais “digeríveis” de “A Favorita” e “Pobres Criaturas”.
É sua nova reunião com o roteirista Efthimis Filippou, com quem fez “Dente Canino”, “Alpes”, “O Lagosta” e “O Sacrifício do Cervo Sagrado”, filmes que moldaram a fama de esquisitão do cineasta e criou sua legião de admiradores (e detratores).
Depois de um namorico de dois filmes e alguns Oscar com Tony McNamara, Lanthimos mostra em “Tipos de Gentileza” que ainda tem muito a dizer sobre quem somos, mas sem respostas concretas, mas questões abstratas.
O filme abre com “Sweet Dreams (Are Made of This)”. Alerta amarelo. Não suporto mais ouvir a música, mesmo sendo a original do Eurythmics. Hollywood a destruiu ao utilizá-la, em diferentes versões, em trailers de “Sucker Punch” a “Uma Dobra no Tempo”, de “Casa Gucci” a “Citadel”.
No caso de “Tipos de Gentileza”, pelo menos, há uma boa desculpa.
Annie Lennox resume o tema do longa: “todo mundo está procurando por algo”.
A obra é dividida em três histórias completamente diferentes ligadas apenas um ponto em comum, exatamente a busca dos protagonistas por alguma coisa.
Na primeira, “A Morte de R.M.F.”, Jesse Plemons faz um executivo que fará de tudo para recuperar o respeito do seu ex-patrão (Willem Dafoe) após recusar um trabalho macabro.
Na segunda, “R.M.F. Está Voando”, o mesmo Plemons faz um policial que tem a mulher (Emma Stone) de volta após ela ter desaparecido numa missão de resgate, mas ele acha que veio uma sósia no lugar.
O último conto, “R.M.F. Come Um Sanduíche”, também usa Plemons e Stone, mas agora como membros de um culto maluco atrás de uma garota especial (Margaret Qualley).
Nenhuma das três peças se conecta no tom (comédia, terror e drama?), mas nos seus atores e visual.
Conhecendo a mente mais cínica de Lanthimos, há uma dose geral de crítica ao que acreditamos ser nosso “bem-estar”.
O primeiro confronta o capitalismo extremo com uma premissa selvagem que pinça um pouco do tom das obras de Bong Joon-ho -há até aparições de relíquias esportivas famosas, como a raquete quebrada de John McEnroe e o capacete de Ayrton Senna.
O segundo é um estudo sinistro de casamento que poderia fazer parte da obra de Jonathan Glazer.
Já o capítulo final ridiculariza a busca pela fé cega e os falsos profetas de maneira chocante.
Toda a esquisitice do roteiro ganha mais força com a entrega do elenco. Não apenas o sempre brilhante Plemons, que deve ser um mutante para mudar tão radicalmente de personagem para personagem. Stone continua sua saga de barbarizar sem limites impostos por vaidades ou Hollywood. Até Willem Dafoe, Hong Chau e Qualley se destacam em suas pequenas, mas importantes participações.
Mesmo com o prêmio de melhor ator para Jesse Plemons no último Festival de Cannes, “Tipos de Gentileza” ainda não tem data no Brasil, mas começou de maneira promissora sua trajetória em circuito comercial bem limitado nesta semana nos EUA: US$ 377 mil em cinco salas.
“Tipos de Gentileza” não é melhor que “Pobres Criaturas” e nem pode servir de comparação. Se Plemons tem boas chance no Oscar, não espere o mesmo desempenho do filme, bem menos direto e dono de um humor mais abstrato e sardônico.
Você poderá rir ou chorar, mas vai pensar. E bastante.
Esperava por “The Bear”/”O Urso”?
Calma, a semana ainda não acabou.
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