Os 20 melhores filmes de 2023!
Se você está esperando os longas de sempre, melhor nem começar a ler a lista das produções preferidas da newsletter neste ano.
O 2023 que se encerra foi mais ou menos como aquele aluno que não tira nenhuma nota 10, mas passa de ano sem grandes sustos.
Tivemos dezenas de bons filmes em 2023. Quase nenhum foi extraordinário.
Tivemos o saboroso duelo de “Barbie” vs. “Oppenheimer” no qual todos ganharam.
Martin Scorsese dando sua visão do massacre dos Osage em “Assassinos da Lua das Flores”.
A ascensão do cinema das coisas com os bons “Air”, “Blackberry” e “Tetris”.
Uma nova visão do romance de Priscilla Presley com o rei do rock que trouxe Sofia Coppola para um terreno conhecido e tantos outros.
E nenhum dos citados entrou no meu Top 10.
Foi mais difícil lapidar essa lista de melhores longas que a de melhores séries do ano, algo que não acontecia havia alguns anos.
Muitos ficaram de fora. Mas poderiam muito bem voltar se a seleção fosse reescrita no dia seguinte.
Isso porque a grande maioria dos filmes é formada por BONS filmes, não filmes INESQUECÍVEIS.
Por isso mesmo, a lista tem algumas surpresas bacanas.
A começar por…
20. Godzilla Minus One
Este não é apenas um dos melhores filmes de monstro dos últimos anos, mas um dos melhores filmes do ano. Ponto. “Godzilla Minus One” nos leva de volta às origens do monstro japonês criado em 1954 para uma mistura de drama de pós-Segunda Guerra Mundial e kaiju. O longa de Takashi Yamazaki foca a história do piloto kamikaze Kōichi Shikishima (Ryunosuke Kamiki), que retorna para o Japão destruído pelos ataques atômicos dos EUA e seu envolvimento com os nazistas. Ele carrega o trauma de não ter cumprido sua missão suicida e se acovardado quando teve a oportunidade de redenção quando ficou frente a frente com um Godzilla ainda em fase de crescimento, na Ilha Odo. Depois de testes com bombas nucleares no Pacífico, que o filme acertadamente não perde muito tempo em explicar, o monstrinho vira um monstrão e parte rumo à ilha principal. Lidando com um orçamento minúsculo para padrões hollywoodianos (menos de US$ 15 milhões), Yamazaki cria batalhas centenas de anos luz mais dramáticas, verossímeis e destruidoras que qualquer coisa que a Marvel fez desde “Ultimato”. Não apenas isso, você se importa com o destino de cada ser humano apresentado pelo filme, do soldado em busca de paz aos cientistas malucos que o ajudam. Não é por acaso que “Godzilla Minus One”, com legendas e falado em japonês, está sendo um sucesso de bilheteria nos Estados Unidos, mostrando que o público está sedento por algo diferente da estética Disney adotada pelos americanos. Uma lição dura para Hollywood. E um filmaço de ação para a Toho.
19. Shortcomings
Adaptação da graphic novel homônima de Adrian Tomine dirigida por Randall Park. Ela mantém o humor amargo (e hilário) e a melancolia moderna do material original sobre um sujeito nos seus 30 anos (Justin H. Min) que adora criticar tudo, mas nunca faz nada da vida até levar um pé na bunda da companheira (Ally Maki). Para quem é fã dos áureos tempos de Kevin Smith.
18. O Assassino
Muita gente torce o nariz para este estudo de técnica de David Fincher, mas adorei como personagem e diretor se tornam um só. Tudo no longa é criado para ser frio e perfeito. Ninguém tem nome, só apelidos. Michael Fassbender é o Assassino. Ele, em tese, é infalível, metódico, ordeiro. Até o dia em que comete um erro e passa a ser perseguido pelos próprios chefes -abrindo margem para uma vingança. É uma aventura primorosamente dirigida, quase um exercício para algo a mais. E com a luta mais brutal do ano.
17. Origin
O cinema de Ava DuVernay é apoiado no didatismo, algo que não suporto. Imagine um filme dela sobre o livro “Caste: The Origins of Our Discontents”, que traz a teoria que nossos problemas de racismo, machismo e “outros ismos” têm a raiz de um problema socioeconômico único. Para minha surpresa, adorei “Origin”. Muito por causa do texto da autora Isabel Wilkerson, explorado pelo roteiro em profusão, mas sem cansar, e pela escolha da cineasta em misturar a teoria com a biografia trágica de Wilkerson, interpretada brilhantemente por Aunjanue Ellis. Educativo, mas emocionante.
16. Crescendo Juntas
Dirigida e escrita pela ótima Kelly Fremon Craig, responsável também por “Quase 18”, a adaptação da obra de Judy Blume é uma comédia dramática sobre amadurecimento que não se faz mais hoje em dia: delicada, otimista e sofisticada. Margaret (Abby Ryder Fortson) é uma garota de 11 anos que se muda com a mãe (Rachel McAdams, em um dos seus melhores papeis) e o pai (Benny Safdie, mais conhecido por ter dirigido “Joias Brutas” com o irmão, Josh) de Nova York para o subúrbio de Nova Jersey. Lá, ela encontra um grupo de amigas com interesses bem diferentes dos seus e passa a ficar obcecada com o corpo, algo que a faz questionar diversos lados da sua vida, inclusive o interesse em religião.
15. Todos Nós Desconhecidos
Fiz uma pesquisa no Google para saber qual o título de “All Of Us Strangers” em português e vi vários sites “copia/cola” resumindo a obra como um “romance gay”. Nada poderia ser mais reducionista. A adaptação bem solta do livro “Strangers”, de Taichi Yamada, é um drama pesado e emocionante sobre fazer as pazes com o passado e saber se despedir das pessoas queridas. Nas mãos de Andrew Haigh (“45 Anos”), Andrew Scott brilha como um homem gay revendo a relação com os pais antes das suas mortes prematuras ao mesmo tempo em que vive um estranho caso com um morador do seu prédio, interpretado por Paul Mescal. Um filme que lava a alma ao mesmo tempo em que destrói seu coração.
14. American Fiction
O filme de estreia do roteirista Cord Jefferson na direção é uma divertidíssima sátira sobre política identitária, racismo, hipocrisia e cultura com um Jeffrey Wright mais relaxado que nunca no papel. O ator vive Thelonious "Monk" Ellison, um escritor com dificuldades para vender seu novo livro porque o mercado literário espera que ele, como negro, escreva algo que corresponda ao estereótipo que se espera dele. Resumindo: em vez de obras densas atualizando tragédias gregas, querem textos sobre a vida nas ruas perigosas de alguma metrópole, escravidão ou guerra de gangues. Numa noite de revolta e bebedeira, Monk decide escrever um livro sobre traficantes da pesada como se fosse um foragido da justiça. A ideia era mostrar o quão raso e limítrofe esse tipo de expectativa é, mas a obra começa a ser disputada por editoras e até por Hollywood. E, assim, o escritor começa a cair nas suas próprias armadilhas numa comédia inteligente, enxuta e perfeita para os dias de hoje.
13. Maestro
“Maestro” pode ser acusado de tudo, menos de não saber o que deseja: um retrato distante da relação entre o gênio Leonard Bernstein (Cooper) e sua mulher, Felicia Montealegre (Carey Mulligan), em meio à bissexualidade do condutor. É um filme sobre a diferença entre amor e paixão, mas com um elemento mais poderoso que os dois sentimentos: a música de Bernstein. Se Cooper parece frio nas relações humanas, mesmo com um personagem tão expansivo, ele é sangue, suor e lágrimas quando precisa retratar o talento do seu protagonista. Somente assim que o longa consegue superar suas pretensões visuais muitas vezes desnecessárias, inclusive no revezamento entre cor e preto e branco. Cooper sabe disso. Não o impede de cometer erros como cineasta, mas ele nunca se omite. Caso da sequência que reproduz um concerto famoso de Bernstein na Catedral de Ely. São seis minutos sem diálogos só levados pelo poder da segunda sinfonia de Mahler, “Resurrection”, e a câmera de Cooper centrada no seu Bernstein. Como cena isolada, talvez seja a mais destruidora, exaustiva e emocionante do ano.