Queime, 2025, Queime!
Ano começa fervendo com incêndios em Los Angeles alterando a cidade do cinema e séries destravando o pior do ser humano.
Nesta edição:
A ironia hipócrita de “Round 6”.
A devassidão fascinante de “Beast Games”.
Pôster bacana.
Los Angeles em chamas muda campanha do Oscar.
Música da semana.
Há uma epidemia muito mais séria se espalhando pela Terra que qualquer coronavírus: a ideia de que todos podem ser milionários da noite para o dia.
O conceito de um milagre ser capaz de mudar a sua vida não é novo. É o que alimentava coisas ultrapassadas como bingos, jogos do bicho ou Loteria Esportiva. E é o combustível externo da proliferação inescrupulosa das casas de apostas online e joguinhos de azar disfarçados de apps que não poupam nem crianças.
A queda da capacidade cognitiva pelo constante uso de ferramentas que ajudam na preguiça do cérebro virou terreno das fraudes. As redes sociais se tornaram fertilizantes da possibilidade de um estilo de vida imaginário elitista semi-instantâneo.
Chuck Palahniuk escreveu uma célebre constatação em “Clube da Luta”: “Fomos criados pela TV para acreditar que um dia seríamos milionários e estrelas de cinema, mas não somos”.
Esse era um resumo da geração X e Y.
Alguns Millenials e, principalmente, a geração Z não foram apenas levados a acreditar que um dia seriam “milionários e estrelas de cinema”, eles se sentem no direito de serem isso antes mesmo de saberem quem são como pessoas. No futuro, todos terão seus 15 segundos de fama.
E não é culpa deles.
Sob ataques constantes de posts sobre (ou de) desconhecidos que possuem (ou fingem possuir) um estilo de vida nababesco ou de pessoas comuns que ganharam fama apenas, por exemplo, sentar numa janela de avião, certos jovens acham que o “milagre da riqueza” está mais perto que nunca. O famoso “se ele pode, por que não posso?” E o algoritmo faz questão de mostrar que “muitos” podem e que você é um fracassado por não ter conquistado seu milhão antes dos 25 anos.
Se antigos santos eram canonizados por seu altruísmo e desapego, os santos digitais são aqueles que passam uma imagem de sucesso constante, de saúde eterna e corpos sarados.
Corporações são as novas igrejas. Reze diante do altar de Elon Musk. Faça uma peregrinação ao Vale do Silício com seus Crocs da humildade. Leia o evangelho do coach de vida. Doe seu dinheiro para essa nova religião que te dará em triplo, quíntuplo. Diabos, dez vezes mais o investimento. Mas em bitcoin. E tome “orar”, Scarpinha.
A cultura pop não escapa dessa obsessão. Dois dos programas mais falados nesta entressafra de 2024 para 2025 são basicamente os mesmos.
“Round 6”, mas vou chamar de “Squid Game” porque a tradução perdeu ainda mais o parco sentido na segunda temporada.
E sua cópia/versão reality, “Beast Games”.