Quem são os adversários do Brasil na corrida por uma vaga no Oscar 2024?
Leia a radiografia de 20 longas que concorrem com "Retratos Fantasmas" para Melhor Filme Internacional.
No momento em que escrevo esta newsletter especial, o diretor Kleber Mendonça Filho está aqui, em Los Angeles, continuando sua maratona de promoção do filme “Retratos Fantasmas” -ou “Pictures of Ghosts” em inglês.
Muitos não sabem, mas comecei minha carreira como jornalista profissional, aquela de bater ponto e escrever diariamente, no “Diario de Pernambuco”, em 1997.
Na época, Kleber era o principal crítico de cinema do concorrente, o “Jornal do Commercio”. Eu ainda nem escrevia sobre o assunto especificamente. E nem me considerava crítico (ainda não me considero, mas isso é discussão para outra newsletter), mas jornalista de entretenimento.
Fui contratado para deixar o caderno “Viver”, as páginas de cultura do jornal, com uma cara mais moderna, escrevendo principalmente sobre música, uma das minhas grandes paixões, meses depois da morte de Chico Science.
Mas repórter não tem escolha.
Escrevia sobre o que meu chefe pedia, de quadrinhos à shows de artistas bregas, de Racionais MCs a Jerry Robinson, de estrelas de filmes pornô a novas bandas que disputavam o posto de “Nova sensação do manguebeat”.
Só comecei a me especializar em cinema quando o crítico do “Diario de Pernambuco” foi fazer pós-graduação na França e acumulei sua função.
Não lembro como e quando conheci Kleber. Talvez tenha sido por intermédio de Ernesto Barros, outro ótimo crítico de cinema de Recife e um amigo. Mas fizemos eventos divertidos, como o lançamento da “Bruxa de Blair”, na Fundação Joaquim Nabuco.
Um pouco dessas histórias voltaram à minha mente quando estive na abertura do Festival do Cinema Brasileiro de Hollywood para finalmente assistir a “Retratos Fantasmas”, documentário sobre cinema, salas de cinema, fantasmas que ficam impressos em películas e, claro, memórias.
Infelizmente, Kleber passou mal neste dia e não pôde comparecer ao evento. Não nos encontramos.
Mas seu “Retratos Fantasmas” foi tão acolhedor quanto, senão mais.
Fui transportado para meus anos de centro do Recife, trabalhando, estacionando, almoçando, correndo, apurando, escrevendo, causando ódio em alguns, ganhando elogios de outros, fazendo tantas amizades (e algumas inimizades) e recebendo artistas com esperança no rosto.
Recife é uma cidade especial. Cheia de problemas, mas especial.
Parte destas questões é abordada em “Retratos Fantasmas”, um longa difícil de se resumir em uma sinopse, mas genial na escolha de título, de imagens e promoções que o colocam como um filme de terror.
O que não deixa de ser. É um documentário sobre salas de cinema de (ou do, como preferem os locais) Recife. Mas é mais que isso. É sobre algo que me incomodava muito no Brasil, a sensação de aprisionamento voluntário, tema de “O Som ao Redor”. E a gentrificação desenfreada e exploração imobiliária, assunto de “Aquarius”.
Quando me convidaram para trabalhar em São Paulo, na revista “SET”, muitos me recebiam com estranheza quando dizia que havia me mudado de Pernambuco para São Paulo. “Como você deixou aquele paraíso?”, me perguntavam.
A distância provoca isso, acho. Paixões imaginárias são mais fáceis que as reais. Amores de verão não possuem os mesmos problemas.
“Retratos Fantasmas” evita julgamentos explícitos, é quase uma aceitação melancólica do inevitável. É saudosista, sim, mas tentando mostrar um futuro, quase uma aldeia gaulesa contra os romanos.
Kleber saberia melhor que eu qual o cinema do centro de Recife que exibia filmes pornôs. Fiz uma matéria na época sobre isso. Mas não sei exatamente a razão e o “DP”, que fornece parte do material de pesquisa física do documentário, apagou os traços digitais de minha passagem por lá como repórter e, depois, repórter especial de cultura.
Mas lembro que havia uma bancada neste cinema, antes de começar o setor de cadeiras, onde era uma espécie de “punhetódromo”, onde os espectadores aliviavam suas emoções.
Será que virou igreja? Será que era alguma daquelas salas que “Retratos Fantasmas” resgata, como a da magnífica arquitetura alemã que tinha propósitos de propaganda nazista no pré-Guerra? Que história magnífica.
Vi conhecidos no filme que não estão entre nós, programadores próximos que passavam pautas e apresentavam filmes.
Foi uma viagem dentro de mim mesmo. E acho que “Retratos Fantasmas” provocou isso em quem viu aqui em Los Angeles. Vários colegas o colocaram entre seus filmes internacionais preferidos. Verdade que nem todos entre os cinco finalistas.
Estamos falando da corrida ao Oscar 2024, mais especificamente pela vaga em Melhor Filme Internacional, já que Melhor Documentário me parece mais distante.
Em 21 de dezembro, a Academia anuncia os 15 filmes que disputarão a última fase do processo.
Pela campanha em Los Angeles e Nova York, bem maior que a dos filmes brasileiros nos anos anteriores, e a passagem pelos principais festivais de cinema do mundo, acredito que “Retratos Fantasmas tem boas chances de ficar entre os 15 semifinalistas.
Ficar entre os cinco finalistas seria um feito e tanto.
Mas quais filmes podem estragar essa campanha do longa brasileiro que já está disponível na Netflix Brasil?
Quais são os favoritos? Os azarões? E sobre o que tratam?
Continue aqui nesta radiografia especial e longa de 20 filmes internacionais inscritos para o Oscar 2024.
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