Sam Raimi salva "Doutor Estranho 2" do desastre
Cineasta que revolucionou o cinema de horror injeta personalidade em um roteiro capenga que confia no serviço aos fãs.
Nas aulas de roteiro da faculdade, uma das primeiras lições depois do famoso “escreva sobre o que você conhece” é que a maneira mais fácil de construir um roteiro é criando uma linha que o personagem deve seguir (A até B), dando um passo a frente (sucesso) e dois atrás (contratempos).
A trama criada por Michael Waldron (da péssima série “Loki”) para “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” segue fielmente o modo “easy”: Stephen Strange (Benedict Cumberbatch) precisa proteger America Chavez (Xochitl Gomez), uma garota com o poder não-controlado de caminhar entre multiversos, das garras da Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen), que deseja ir para uma dimensão onde ainda tem filhos e é feliz. Para isso, eles precisam encontrar um livro sagrado, viajando entre universos para tanto.
Pronto. Essa é a premissa da sequência, talvez uma das mais capengas e simples de todos os longas da Marvel.
Existe só uma diferença: Sam Raimi na direção.
O diretor de “A Morte do Demônio”, “Homem-Aranha” e “Arraste-Me para o Inferno” consegue impor seu estilão que equilibra horror semi-trash com a imposição grandiosa de um blockbuster e salva o que seria um desastre completo de filme.
Mas não foi fácil.
Os primeiros 30 minutos de “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” parecem sobras de alguma continuação de “Animais Fantásticos”: o herói leva Chavez para Kamar-Taj para ganhar a ajuda do mago supremo Wong (Benedict Wong) e seus colegas de magia na tentativa de impedir a Feiticeira Escarlate de colocar as mãos na garota, que seria morta para a vilã (?) escapar para outra realidade.
O filme engrena mesmo quando Strange e Chavez são jogados na teia de multiversos e Raimi mostra suas garras, injetando suas sobreposições, câmeras em close, humor grotesco e um visual mais psicodélico no meio da parafernália de efeitos visuais da Disney.
E Bruce Campbell, claro
A segunda metade de “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” vira um festival divertido de horror com a apresentação dos Illuminati liderado por Mordo (Chiwetel Ejiofor) em outra dimensão e o longa finalmente fica divertido e surpreendente -não da maneira que os fãs estão imaginando.
Raimi claramente se diverte muito mais explorando o lado maligno da Feiticeira Escarlate e Olsen brilha acima de todo mundo na sua melhor interpretação dentro do MCU -pena que a conexão emocional do espectador dependa da série “WandaVision”, que serve de prólogo para esse novo filme.
Mas a sensação que fica é de que “No Multiverso da Loucura” é um episódio bacaninha, mas esquecível no meio de uma temporada de algo que ainda não entendemos.
Bem, essa é a resenha sem spoilers de “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura”.
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