"Se Michael Jordan me pedisse para não fazer o filme, não faria", diz Ben Affleck sobre "Air"
Duas boas surpresas neste início de ano entram nas salas brasileiras com diferença de poucos dias.
Quando Ben Affleck estava dando os primeiros passos na criação de “Air”, filme que estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (6), ele marcou um encontro com Michael Jordan.
A ideia de Affleck era dirigir um longa sobre o contrato do jogador com a Nike, algo que transformou Jordan em milionário antes mesmo da sua estreia na NBA e que mudou a face da Nike, uma marca em crise que ocupava menos espaço de mercado que Converse e Adidas -hoje, a Converse faz parte da Nike.
Mas o marido de Jennifer Lopez precisava da aprovação do astro do basquete. “Se ele pedisse para não fazer [o filme], eu não faria”, confessa Affleck em uma coletiva de imprensa. “Seria nossa última conversa e eu estava preparado para esse resultado, pois não tinha razão para imaginar que ele estaria aberto a fazer esse longa. E não seria uma história sobre Michael Jordan sem Michael Jordan. Seria desconfortável.”
Jordan, contudo, estava aberto a ouvir a proposta do cineasta, que vislumbrava um filme mais óbvio sobre o ponto de vista do jogador sobre seu primeiro contrato, que mudou para sempre a relação entre jogadores e marcas patrocinadoras. O ângulo da trama deu uma guinada após esse encontro. “Jordan é o tipo de pessoa que não gosta de falar sobre si mesmo. Ele queria ressaltar a significância das pessoas responsáveis por ele ter conseguido o contrato”, diz o diretor, que percebeu uma nova direção para o projeto.
“Jordan é o mais próximo de uma divindade olímpica que existe. Quando ele começou a falar sobre sua mãe, percebi a reverência, o respeito e a adoração dele por ela. Isso me chocou e me envergonho por não presumir que seria assim”, lembra Affleck. “Percebi na hora qual era a trama. A história era sobre Deloris Jordan. Quando perguntei quem deveria interpretá-la, ele disse: ‘Tem de ser Viola Davis’.”
Obviamente que o pedido/ordem de Jordan trouxe uma dor de cabeça para Affleck. E se Viola Davis, uma das maiores atrizes em atividade no cinema, não topasse o papel por alguma razão? “Sabia que nossa missão seria criar um papel que fosse merecedor dela. Ter Viola Davis no filme me validaria como diretor”, admite o humilde cineasta, que também atua no filme no papel de Phil Knight, famoso CEO da Nike. “No fim, ela aceitou. Tentei acreditar que foi por minha causa, mas acho que tem mais a ver com o desejo de Michael Jordan.”
Davis não nega que o pedido do maior jogador de basquete da história teve influência e foi “lisonjeador”. No entanto, isso criou outra pressão na atriz. “É ótimo me sentir querida, mas o pensamento seguinte foi: ‘agora preciso fazer jus ao papel’. E quando você assiste a vídeos de Deloris Jordan, ela é um caso de estudo de neutralidade zen”, brinca Davis. “Aquela mulher é tão estável e quieta. Isso foi um desafio para mim, que sou bem bombástica.”
Assim como um bom time de basquete, “Air” é um filme azeitado coletivamente para deixar a individualidade falar mais alto. No passado, estaria sendo lançado no segundo semestre para tentar uma vaga nas grandes premiações. Mas faltou confiança à Amazon, que é dona dos direitos do filme nos EUA.
Matt Damon é o pivô. “Air” circula ao seu redor. No papel de Sonny Vaccaro, o executivo da Nike que aposta sua carreira na aposta no jovem Michael Jordan, o ator tem um papel difícil como uma espécie de Jerry Maguire sem carisma. Mas ele consegue ser a grande atração do filme exatamente por exalar uma serenidade em contraponto ao resto do elenco, como o agente durão de Chris Messina, que rende as cenas mais divertidas do longa, e Rob Strasser, o diretor de Marketing da Nike vivido por Jason Bateman.
Com Affleck na armação, o jogo flui tenso, porém rápido. “Air” é um thriller corporativo com um roteiro enxuto por Alex Convery que exala o suspense de “Margin Call - O Dia Antes do Fim” (ou do próprio “Argo”) e o bom humor de “O Desinformante”, um dos projetos mais subestimados de Damon.
“Air” não é sobre a criação dos tênis Air Jordan. Ele está lá, no entanto, como um fantasma. É como a arca perdida de Indiana Jones, que leva os personagens por mil situações, mas só faz aquela aparição maravilhosa no final.
Isso tanto é verdade que Michael Jordan não aparece no filme. Vemos apenas sua silhueta, partes do corpo, mas nunca seu rosto. Entendo a razão da escolha visual para evitar o foco da atenção no astro do esporte -bem diferente do que acontece em “Ela Disse”, que faz o mesmo com Harvey Weinstein, mas para não jogar holofotes no produtor criminoso de Hollywood.
Ainda acho muito prematuro conversar sobre Oscar. Obviamente que os editores de premiações (sim, existe isso) nas revistas especializadas dos EUA já estão salivando para criar manchetes como “‘Air’ é o primeiro filme a se candidatar ao Oscar 2024”. Pode até ser, mas prefiro esperar mais três meses e alguns festivais para cravar algo neste sentido.
Melhor aproveitar a surpresa que “o filme sobre um tênis” já é um dos melhores do ano.
Mas não é a única surpresa de 2023.
Vem comigo…
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