Desafiador do Desconhecido

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Vampirismo cultural

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Ambicioso, original e tão complexo quanto divertido, "Pecadores" é um dos grandes filmes da história do cinema.

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Rodrigo Salem
May 02, 2025
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No fim da primeira hora de “Pecadores”, há uma cena crucial no bar recém-aberto pelos irmãos gêmeos, Smoke e Stack, ambos vividos por Michael B. Jordan.

Naquele instante, passado, presente e futuro se mesclam em uma dança quente e suada na qual músicos negros de diversas épocas tocam guitarras, pick-ups, bandolins, percussão para a multidão inebriada do Mississippi de 1932. Blues, jazz, hip-hop, rock, techno se atropelam e fazem, de alguma maneira, sentido no caldeirão musical.

Se tenho alma, ela se arrepiou naquela hora junto ao meu corpo.

Há muitos anos não sentia uma sequência tão energética, tão simples e poderosa quanto aquela no fim da primeira hora da nova obra de Coogler, diretor que ganhou fama por “Pantera Negra” e “Creed”, duas franquias em universos estabelecidos.

O tecido da realidade é quebrado.

Você finalmente entra em outro universo com um simples ingresso de cinema. Você não pagou para sentar e assistir impassível. Você pagou para ser transportado e maravilhado. Você não está mais na Terra que conhecemos.

É o poder do cinema no seu mais alto impacto. Um moleque vendo “Pecadores” pela primeira vez vai ter seu horizonte eternamente alterado, como James Cameron, Steven Spielberg, John Carpenter e Robert Zemeckis fizeram comigo.

É o multiverso da cultura sonora negra, longe do multiverso Marvel, que sofre nos últimos anos para reencontrar sua ginga, seu mojo, sua malemolência, prisioneiro de um sistema industrial enfadonho e repetitivo.

É muito representativo o que acontece na cultura pop neste momento em que “Pecadores”, um filme totalmente original, chega à sua terceira semana reinando nas bilheterias norte-americanas enfrentando a estreia de “Thunderbolts”, mais um longa da Marvel que só existe para dizer que há um outro filme mais importante vindo pela frente.

“Thunderbolts” vai gerar mais bilheteria? Certamente. É um filme de US$ 200 milhões com uma máquina poderosa por trás. E nem é ruim. Mas não traz nada de novo: time de anti-heróis disfuncionais que se odeiam precisam se unir para combater um mal superior. É como paixão de Carnaval, divertido e esquecível. E pode acontecer todo ano.

“Pecadores”, por outro lado, é um daqueles longas especiais. Utiliza uma estrutura simples para contar uma história complexa. É como tomar uma pílula pequena que resolve alguma doença pesada. De certa maneira, me lembrou da sensação que tive ao assistir a “Matrix” pela primeira vez. O sentimento de estar no cinema vendo algo novo, ao mesmo tempo, digerível e refrescante.

Coogler sempre foi um autor especial.

Fiz sua primeira entrevista fora dos EUA, 12 anos atrás, por “Fruitvale Station”, durante do Festival de Cannes. Acho que ela nunca foi publicada pela “Folha de S. Paulo”, já que o drama estreou no Brasil quase um ano depois da conversa. Fiz apenas uma pequena crítica durante o evento francês, pelo que me lembro. Pena, mas não foi a primeira nem seria a última entrevista que nunca viu a luz do dia, independentemente do veículo -tenho até uma individual com Harrison Ford nunca transcrita.

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