A cultura pop está mais infantil que nunca
A cortina entre ficção e realidade fica cada vez mais tênue nos ataques contra filmes como "Que Horas Eu Te Pego?".
Nesta edição:
Jennifer Lawrence contra os caretas
Novo filme do “Cinema das Coisas” no Brasil
Série mira em “24 Horas” e acerta
Mais uma ótima comédia que bate as botas
Música da semana
Ano passado, em rara entrevista ao jornal inglês “The Guardian”, o escritor Alan Moore se mostrou preocupado com a obsessão adulta pela cultura dos super-heróis.
“Este tipo de infantilização, que clama por tempos e realidades mais simples, pode muitas vezes ser precursor do fascismo”, disse o homem por trás de obras como “Watchmen”, “V de Vingança” e “A Liga Extraordinária”.
Nesta semana, tivemos exemplos preocupantes de como muitas pessoas têm uma visão borrada dos limites entre realidade e ficção. Por causa da estreia de “Indiana Jones e a Relíquia do Destino” (leia aqui o que achei do filme), alguns artigos pulularam pela Internet sobre a ética de um arqueólogo pulp dos anos 40 que roubava artefatos históricos.
A discussão nem é nova. Há um artigo da NPR de 2009 (“Indiana Jones: Salvando ou roubando a História”), outro da “Vice” de 2011 (“Indiana Jones Envelheceu Pessimamente”) e até discussões no Reddit (“Seria Indiana Jones um ladrão e assassino?”).
Há alguns dias, sites e jornais estamparam que a Netflix estava sofrendo “represálias” por anunciar que o filme “Titanic”, que, queiram alguns ou não, ainda é um dos mais importantes do cinema espetáculo de Hollywood, retornaria ao catálogo do streaming em julho.
A tal “represália” era uma reunião de quatro ou cinco tweets (ou qualquer número que hoje consiga referendar uma tese furada) criticando a empresa por veicular o anúncio dias depois da tragédia que matou cinco pessoas num submersível que rumava ao Titanic.
O mundo hoje está com uma população de quase 8 bilhões de pessoas.
O Twitter tem cerca de 220 milhões de usuários ativos mensais.
Mas, sim, uma dezena de “indignados” vale uma matéria.
Tudo bem, não vamos julgar ninguém por caçar cliques. Os tempos são outros. Chamar a atenção está cada vez mais complicado.
O problema é quando esse véu ficcional é tratado como realidade absoluta ao ponto de gerar questionamentos morais e revoltas reais a respeito de personagens “de mentirinha”, como se todos os filmes precisassem seguir o norte moral de uma bússola impossível de ser alcançada. Se todo mundo é bonzinho, qual o conflito da história?
Veja o que aconteceu com “Que Horas Eu Te Pego?”, novo filme com Jennifer Lawrence.